Nesse momento, você não tem como saber se essa news que está lendo foi realmente escrita 100% por dedos e raciocínio humanos, se contou com intervenção ou colaboração de algum robô. Não tem como saber. Não dá mesmo.
Posso ter gasto algumas horas pra produzir esse material ou simplesmente ter inserido essa demanda nas mãos de um robô virtual, pra que ele fizesse o trabalho em segundos.
Pra naturalizar a escrita, mais do que o próprio robô faz, posso ter inserido de propósito alguns “micro erros” de pontuação e algum outro lapso. Ainda assim, a dúvida segue permanecendo, não é verdade?
Fato é que uma dessas inteligências, com aprendizado de máquina, está nos trends como um dos assuntos mais buscados nos últimos meses e veio pra ficar.
Me refiro ao ChatGPT.
No Google Trends, desde dezembro é o tema que tem ranqueado com aumento repentino, em diversos países no mundo.
Criado pela empresa Open AI, o ChatGPT é um sistema que se utiliza de algoritmos de Machine Learning que processam a linguagem e permite uma interação humana de uma forma realista, criando textos muito bons.
O fenômeno é tamanho, que a ferramenta atingiu 100 milhões de usuários em 2 meses. O crescimento mais rápido do que o TikTok ou qualquer outro aplicativo ou serviço já disponibilizado.
Mas essa tecnologia, que pode ser uma super ajuda pra quem produz textos de forma profissional, tem seu uso questionado por aqueles que precisam ensinar e formar novos indivíduos: Os professores.
Pra efeito de experiência, busquei o próprio ChatGPT pra ter dele mesmo, a sua análise sobre os impactos do uso da ferramenta na sala de aula.
Lancei no sistema o seguinte pedido: Um artigo sobre os efeitos do ChatGPT em sala de aula.
Ele me responde assim:
Perceba que ele me mostra 4 pontos, enfatizando vantagens, melhorias e possibilidades de aumento de motivação por parte dos alunos.
Era algo que eu poderia imaginar. Uma ênfase positiva de si próprio.
Ao refazer o comando, pedindo um texto com argumentações e impactos negativos do uso do ChatGPT, recebi esse resultado:
A letra do print pode não estar tão boa, mas o resultado foi a descrição de que o uso do ChatGPT em sala de aula pode gerar dependência excessiva, despersonalização do aprendizado, falta de criatividade e limitar a capacidade de pensar.
O próprio sistema conclui com uma orientação e advertência:
“O uso do ChatGPT em sala de aula pode ter impactos negativos significativos se não for usado de forma equilibrada e consciente. É importante que os professores e administradores educacionais considerem cuidadosamente as vantagens e desvantagens do uso da tecnologia e adotem medidas para minimizar seus impactos negativos”.
O próprio bot reconhece essa dependência, que fica expressa nas redes sociais, em momentos quando o sistema apresenta instabilidade, como por exemplo, nesse tweet irônico.
De qualquer forma, Obrigado ChatGPT! Jogou a bomba pra nós, educadores.
Mas afinal, esse sistema representa um apocalipse na forma de aprender?
As opiniões estão, em sua maioria, em cima do muro. Isso porque podemos ver fatores positivos e negativos, na prática em sala de aula. Em uma matéria feita pela Forbes, no fim do ano passado, quando a coisa toda explodiu, os comentários de especialistas e gestores escolares, principalmente nos Estados Unidos, tentam expor maneiras pra essa adaptação acontecer, sem comprometer o processo de aprendizagem. Mas ainda assim ressaltam a preocupação com que isso se torne uma muleta criativa e favoreça de forma descontrolada e em alta escala, a cola digital.
Em algumas escolas públicas na cidade de Nova York já começam a ter proibições do uso da ferramenta nas redes e dispositivos Wi-Fi das escolas para evitar trapaças, apesar dos alunos sempre acharem alternativas para usar o chatbot.
A questão está no fato de que modelo de educação atual, que deveria dar ênfase no processo, tem sua estrutura baseada na avaliação dos resultados entregues pelos alunos. E agora essas entregas podem ser, de maneira muito fácil, copiadas de um chatbot.
Busca-se maneiras de monitorar e identificar produções feitas, usando sistemas anti-plágio já existentes no mercado, porém ainda estão longe de dar resultados mais confiáveis.
Diante disso, apesar da sensação de apocalipse que parece existir com o uso do ChatGPT em sala de aula, penso que a ferramenta tem sim a possibilidade de somar no processo de ensino e aprendizagem e o grande impacto será a necessidade de trabalhar a valorização do processo e da criatividade ao invés de focar apenas no que os alunos entregam.
Fico com o que a Dora Kaufman, professora de tecnologias da inteligência e design digital da PUC-SP, disse em entrevista ao Por Vir. Ela relaciona os seguintes pontos sobre o que pode ser interessante com o uso do chat:
a) criar questionários para testar a compreensão dos alunos sobre determinado tópico;
b) gerar tarefas diferenciadas, ou seja, personalizadas ao perfil de cada aluno;
c) produzir exemplos de respostas de referência às tarefas propostas aos alunos;
d) gerar questionário de múltipla escolha para avaliar a compreensão dos alunos;
e) criar plano de aula com base na realidade de cada classe;
f) criar recursos visuais como imagens, pôsteres e/ou vídeos ilustrativos dos conteúdos a serem abordados.
Tem ainda um espaço pra criação de métodos sobre como os próprios alunos, sob orientação mediada em sala de aula, podem fazer uso pra impulsionar curiosidade e aprender mais. (Mas isso podemos abordar mais adiante).
Isso tudo vai exigir da parte de quem tem a missão de ensinar, o entendimento e as estratégias de como adaptar o seu próprio conteúdo para esse momento que estamos vivendo.
Vamos em breve voltar a tocar mais nesse assunto. É só o começo.
PS: Sobre o tempo gasto nesse material, posso assegurar pra você de que foram algumas horas sentado aqui, pesquisando e produzindo. O GPT não deu conta ainda de fazer isso. 😁
🌊 Rios Voadores
O podcast CanalTech, apresentado por Wagner Wakka, tem um episódio falando sobre o tema, trazendo alguns pontos de vista e que achei bem interessante.
Google começa a correr atrás do prejuízo, temendo ser deixada de lado, como o principal buscador global. Veja essa matéria do caderno Tilt, da UOL.
Você já está usando o ChatGPT? Já teve alguma experiência interessante por aí? Me manda um relato. Vou adorar saber como você está fazendo uso. Pode me enviar por direct no Instagram.
Agradeço por ler até aqui. Não deixe de mandar pra frente esse link e convidar seus amigos pra cá.
🔵 Texto feito por Denys Cruz, mestre em ensino tecnológico, especialista em marketing e pesquisador em Manaus, Amazonas.