Teve um tempo que a Campus Party era uma febre. Ingressos eram disputados e viagens pra ir em alguma edição do evento, independente do lugar onde acontecia, tinham um interesse grande, porque significava possibilidade de interação e ponte com contatos interessantes. Foi isso que percebi no evento que aconteceu em Porto Velho, Rondônia. O evento foi em 2018, mas as inspirações e lições a gente carrega por mais tempo. Uma dessas participações no evento foi da advogada e ativista Sharron McPherson que iniciou sua apresentação levando um olhar pra onde muitas vezes não nos damos conta. Para a necessidade de construção de novas pontes de conhecimento entre pessoas distanciadas geograficamente ou socialmente. “Mais pontes entre Brasil e África é o que se precisa construir”, sugeriu ela. Com doutorado em direito pela Universidade de Columbia e diploma honorário em finanças pela Universidade de Toulon, na França, Sharron foi a primeira mulher afro-americana a se formar na famosa Singularity University.
Ela já trabalhava como investidora em Wall Street quando começou a refletir sobre como poderia tornar a carreira mais útil, a levando a ir morar na África do Sul e criar o Centro de Tecnologias Disruptivas. O centro funciona em Johannesburg como um serviço de apoio para pequenos empreendedores na África, incentivando ideias como a do arquiteto Sénamé Koffi, que ao perceber que as impressoras 3d estavam custando uma nota alta, criou uma impressora com peças de computador jogadas no lixo.
Uma coisa que ela disse naquele evento, me chamou a atenção. Pra ela, “diversidade” é algo mais inteligente a se buscar em um projeto de inovação e tecnologia.
“Pessoas sem background tecnológico tem muito a oferecer”.
E ela fala sobre isso com a experiência de encontrar realidades com contrastes econômicos extremamente fortes, defendendo que a África é onde as coisas realmente estão acontecendo. A ativista também foi fundadora do maior grupo de investimento em infraestrutura para mulheres na África, apoiando mais de 3 mil pequenas empresas que pertencem a mulheres, apostando em um continente que conta com a população mais jovem do mundo e o que mais cresce.
“Temos hoje mais de 200 milhões de pessoas com idades entre 15 e 24 anos. E que são grandes usuários de novas tecnologias. Isso vai dobrar até 2050.”
Sharron McPherson parecia preocupada em justificar a necessidade de construção de pontes, como objeto de suas iniciativas, de uma investidora interessada em novos negócios, comparando a força interior que cada ser humano tem, com poderio de até 80 vezes maior que a de um artefato atômico, no que se refere a propulsão que podemos ter com a iniciativa individual pra mudança de realidades.
Mas mais do que um discurso com tempero motivacional, o fato é que, em meio as mudanças com curva de retorno acelerado vivenciadas neste período em que estamos, a adaptação digital não deveria, defende ela, implicar em um distanciamento entre grupos, antes pelo contrário: a experiência dos agentes tradicionais, políticos, dirigentes e o trabalho de criadores e desenvolvedores espalhados em ambientes com fortes demandas, devem trabalhar em conjunto para que aí sim haja a combinação entre tecnologia e resolução de paradigmas de nossa época.
Mais do que isso, reafirma a certeza de que a formação de grupos multiformes, com conhecimentos em maior/menor grau, independente de deter formação especificamente em tecnologia, podem transpor o “Rio Negro” dos distanciamentos com novas conexões, a começar por mim.
A Campus Party já foi bacana. Não é mais uma febre, mas ainda rende boas inspirações.
🌊 Rios Voadores
Falando em Campus Party, tem uma edição do evento prevista pra Outubro aqui na Amazônia.
Essa semana abriu os trabalhos para a conscientização sobre o Meio Ambiente ao longo do mês de Junho. Sobre esse assunto, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente estima que mais de 400 milhões de toneladas de plástico são produzidas anualmente, com menos de 10% sendo recicladas. Países super poluidores como a China, tem tomado medidas pra tentar diminuir esses impactos.
🔵 Texto feito por Denys Cruz, mestre em ensino tecnológico, especialista em marketing e pesquisador em Manaus, Amazonas. É também analista técnico do Sebrae Amazonas.