A chance de ouro para startups de saúde
Nunca se viu tantas oportunidades de melhoria nesse setor
Se você tem um plano de saúde empresarial, corporativo ou particular, com certeza você já tentou agendar uma consulta e ouviu a seguinte conversa ao ligar pra um consultório médico:
- Olá, bom dia! Eu gostaria de agendar com um dermatologista. A dra. Raimunda tem agenda pra essa semana?
- Sim, ela tem disponibilidade inclusive hoje, se quiser. Vamos agendar?
- Sim. Vou querer agendar. A dra. atende o plano MEDX?
- Poxa, ela até atende esse plano, mas infelizmente pra quem faz parte do plano MEDX ela só tem disponibilidade pra daqui a 2 meses, aproximadamente. Faça o seguinte, me ligue no próximo mês, que vai ser quando a agenda dela vai abrir e aí a gente pode ver quais os dias disponíveis.
Foi o que ouvi essa semana buscando um atendimento via MEDX (Mudei o nome do plano). Não apenas uma, duas ou três ligações. Foram diversas.
Ligar pra buscar agendar não foi opção. Foi obrigação. Depois de tentar fazer esse procedimento diretamente no aplicativo da MEDX, com uma experiência de navegação mal construída e com vários bugs , a saída foi abrir a lista do guia médico disponível e sair catando telefone, ligando de um por um.
Essa minha história é mais uma na via crucis das relações entre assinantes com seus planos de saúde, tem um vácuo gigantesco de espaços pedindo pra serem preenchidos. Falo sobre oportunidades pra soluções criativas.
O que esse movimento pela inovação e o apelo pra surgimento de novas startups podem aprender com as falhas no segmento da saúde?
Dados não faltam. Cases não faltam. Operadoras problemáticas também. Uma pesquisa rápida no Reclame Aqui vai mostrar milhares de registros de insatisfação sem resposta, nesse oceano gigante de demandas que não são atendidas.
Isso tudo abre espaço para as HealthTechs, que são startups que tem como objetivo trazer soluções inovadoras na área da saúde. Elas desenvolvem serviços e soluções que podem ajudar a melhorar a eficiência, reduzir custos e melhorar a experiência de quem precisa de uma consulta.
Segundo o Mapeamento Healthtech 2022, levantamento realizado pela Associação Brasileira de Startups (ABStartups), em parceria com a Deloitte, o mercado está passando por um boom na criação desse tipo de startup desde 2019.
Em 2020, eram mais de 800 startups de saúde em funcionamento.
Possivelmente o avanço da telemedicina, o crescimento das clínicas médicas populares, do alto custo dos planos de saúde e o interesse da população em cuidar mais de sua saúde despertou essas novas empresas.
Ainda segundo o estudo, apenas em 2020 foram mais de R$ 31 milhões em investimento em healthtechs em estágio inicial no Brasil, e hoje 46% delas estão entre a fase de tração e escala.
Aplicações como big data, machine learning, cloud computing e inteligência artificial são possíveis grandes caminhos pra automatização de processos que ainda hoje são um sofrimento. Pra gente não ir muito longe, algo que já poderia ser resolvido pra ontem seria a localização mais rápida de médicos disponíveis e agendamentos mais facilitados, sem a perda de tanto tempo e paciência.
Entendo que dentre as techs que existem, a Health é prioridade. Quem está desenvolvendo soluções digitais nesse setor, tem a chance de ouro de sair na frente.
Isso porquê o foco dessas soluções tem como pano de fundo a urgência de um país com toda uma deficiência histórica, sentida principalmente pela fatia da população de menor renda. Essa é a que mais sofre com a falta de acesso aos serviços de saúde no Brasil.
Um diagnóstico publicado esse ano na The Lancet Regional Health – Americas utilizando dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) reforçou isso. O estudo dos pesquisadores Matías Mrejen e Maíra Coube, destacou que 3,8% e 7,5% da população relataram necessidades não atendidas de acesso aos serviços de saúde e a medicamentos, respectivamente, em 2019. Essas necessidades não atendidas estão concentradas de forma desproporcional entre a população de menor renda. Ainda segundo a pesquisa, um dos principais fatores que explicam as desigualdades de acesso é o uso de planos de saúde privados. O uso desse serviço contribuiu em 40% para a desigualdade de acesso aos serviços de saúde e 73% no caso dos medicamentos.
Em um país onde 9 em cada 10 brasileiros avaliam que a população não tem condição de pagar por saúde de qualidade, com o custo de tratamento e dificuldade no agendamento de consultas como os principais gargalos, a tecnologia, aliada a bons projetos institucionais de incentivo a criação de soluções, pode ser uma alternativa pra diminuir essa falta de acesso.
🌊 Rios Voadores
Se quer saber mais sobre essa temática das healthtechs, esse material do UOL ficou muito interessante. Confira.
🔵 Texto feito por Denys Cruz, mestre em ensino tecnológico, especialista em marketing e pesquisador em Manaus, Amazonas. É também analista técnico do Sebrae Amazonas.