O consumidor e o tempo
Reator 2 | #08 | O que dizem os relatórios de tendências pra esse ano
Como uma prática que ajuda no processo de identificação do que vamos encarar nos próximos meses, é sempre interessante ficar com as atenções voltadas pra alguns relatórios de tendências que são emitidos por agências especializadas e por gente que faz esse trabalho de garimpagem, seja em nível nacional ou internacional.
Eu digo “alguns” relatórios, pois nem todos são realmente necessários, justamente porque atualmente o que não falta são materiais apontando pra todas as direções da bússola. Isso pode ser mais desorientador do que qualquer coisa.
Mas como ainda estamos no terceiro mês do ano e é nesse período que saem levantamentos interessantes, creio que vale a pena comentar sobre o que já tem surgido de destaques. Pelo menos, os que considero como realmente necessários.
Nessa publicação de hoje, quero destacar um documento feito pela WGSN, falando sobre o consumidor do futuro de 2023. A agência é uma autoridade global há quase 25 anos em previsão de tendências de consumo, estilo de vida e design de produtos e portanto merece uma atenção maior.
No white paper desse ano, eles destacam os principais propulsores de comportamento que irão impactar a mentalidade dos consumidores nos próximos meses. São informações de grande valor, justamente pelos sentimentos levantados e que fazem todo o sentido se analisarmos esse momento onde todos estamos, buscando nos reerguer após o período mais complicado da história da humanidade, no que se refere a saúde pública.
O relatório diz que o consumidor “pós-pandêmico” exigirá novas formas de conectividade digital e conexão humana. E pra qualquer projeto que se venha pensar, nunca foi tão importante estar alinhado com as necessidades e desejos do consumidor, para tentar garantir o maior nível de acerto possível no que for ser desenvolvido, seja pra qual público for.
Precisamos entender o sentimento do consumidor.
Um desses sentimentos do consumidor que o relatório destaca é uma mudança na percepção do tempo.
O baque das incertezas geradas pela pandemia alterou nossa noção de ver o tempo, ocasionando uma transformação de memórias, nos fazendo olhar mais para o que foi feito no passado, como uma maneira de escapismo do que acontece de incômodo no tempo presente.
A percepção de que durante um expediente de trabalho o tempo demora pra passar, acabou sendo potencializado pela dificuldade de adaptação às inúmeras agendas que foram geradas no período de maior fechamento dos espaços físicos. Com a vida toda acontecendo de forma remota, tudo funcionou via ZOOM e Google Meet e isso reflete agora nesse atual momento, pois simplesmente trouxemos os nossos ambientes de trabalho para a sala de casa. Tudo foi misturado no período da pandemia. O tempo em casa se misturou com as atividades do trabalho e vice-versa, não por alguns dias, mas por anos.
Estamos em processo de reorganização do tempo.
De acordo com o levantamento da WGSN, o tempo se tornou um ponto focal coletivo.
As pessoas vão querer usar mais o seu tempo pra si mesmas e não apenas pra obrigações.
As pessoas querem descansar. Querem se acalmar.
Em um levantamento feito pela McKinsey sobre o mercado de bem-estar americano, ter um sono melhor é a segunda maior prioridade para os consumidores depois de uma saúde melhor, com 45% e 47% dos entrevistados, respectivamente, nomeando essas dimensões como uma “prioridade muito alta”. A ênfase no sono terá uma maior prioridade do consumidor nos próximos dois a três anos, o que se alinha com as tendências mais amplas da indústria do sono e que converge com o sentimento de uma busca maior por atividades mais calmas e alegres ressaltados pelo pessoal da WGSN.
Nesse espaço entra a nostalgia. O resgate de lembranças antigas, fotos e experiências pra recordar, são como um remédio para os anos de tanto sofrimento coletivo. Nunca se comprou tantos discos de vinil do que nos últimos tempos, desde os anos 80. Uma espécie de experiência de volta para o futuro. Nisso entra a ressurreição dos clássicos cinematográficos com finais emocionantes como o Titanic e Top Gun. Tudo dentro dessa linguagem com entendimento de que é algo buscado pelo consumidor. Ele quer essa entrega!
Apesar de ser uma abordagem de comunicação que já vem sendo usada há alguns anos, percebemos uma subida considerável no uso do tema, principalmente em segmentos envolvendo serviços e produtos que trabalham com estilo de vida.
Algo pra ficarmos atentos.
Os que entenderem esse sentimento do consumidor vão conseguir conversar melhor com os seus clientes e oferecer melhores conteúdos e serviços.
A postagem de hoje foi pra trazer esse foco, em especial sobre o sentimento e percepção do valor do tempo por parte das pessoas.
Nas próximas semanas vou comentar mais pontos sobre este e outros relatórios de tendências.
🌊 Rios Voadores
Como uma sugestão de link pra hoje, sugiro dar uma verificada no Consumidor do Futuro 2023, da WSGN. Vou voltar a comentar mais adiante, outros aspectos desse estudo deles, que considero relevante.
🔵 Texto feito por Denys Cruz, mestre em ensino tecnológico, especialista em marketing e pesquisador em Manaus, Amazonas. É também analista técnico do Sebrae Amazonas.