Reator 2 | Edição #07 | Previsão e Ação
Tecnologia pode ajudar na antecipação de tragédias, mas é necessário saber o que fazer com os dados
Em apenas três meses desse ano de 2023 já temos vivenciado tragédias pelo país, com desastres envolvendo chuvas fortes, deslizamentos de encostas e alagamentos, acarretando em dezenas de pessoas mortas e em incontáveis perdas materiais. Muitos que por morarem em áreas consideradas de risco, precisam deixar suas casas e se adaptarem em um novo ambiente ou localidade. Isso quando podem.
Há algumas semanas, batemos um terrível novo recorde: tivemos o maior acumulado de chuva em 24 horas já registrado na história do Brasil. Foram 682 milímetros em apenas um dia, que atingiram municípios do litoral de São Paulo, com 64 vítimas confirmadas nos municípios de São Sebastião e uma em Ubatuba, além de mais de 4.000 pessoas entre os desalojados e desabrigados.
Infelizmente, catástrofes como essas estão longe de ser apenas algo isolado. Se olharmos para a média da última década, aproximadamente 10.000 pessoas no mundo morrem de desastres naturais a cada ano.
Percebemos nos levantamentos como estes do Our World in Data que na última década, houve uma leve redução nas taxas de mortalidade envolvendo grandes desastres em comparação com décadas anteriores, mas ainda assim, com números substanciais de pessoas atingidas.
Surgindo como uma problemática relativamente nova, que tem sido pauta em inúmeros debates envolvendo políticas internacionais nos últimos tempos, temos o aquecimento global, com registros de temperaturas extremas, consequência de ausência de medidas que precisariam ser adotadas por parte de países considerados grandes emissores, a fim de salvar o planeta.
Nessa semana, foi a vez da cidade de Manaus ser acometida por uma grande quantidade de chuva, fazendo colapsar diversas áreas de risco já catalogadas da capital do Amazonas, vitimando 8 pessoas, dentre elas, 4 crianças.
Apesar do alerta feito pela Defesa Civil do Amazonas algumas horas antes do ocorrido no último domingo (12) em Manaus, não houve mobilização suficiente que pudesse amenizar os prejuízos por quem teve a sua casa invadida por água.
Parte disso tem a ver com a condição excepcional de uma gigantesca quantidade de água caindo na capital de uma vez só. Soma-se também a essa problemática uma baixa ação por parte do poder público diante de dados que “gritam” a urgência de se tomar medidas práticas que possam se antecipar a essas ocorrências.
Um detalhe importante é que a área onde ocorreu deslizamento de terra em Manaus não era monitorada pela prefeitura para possíveis tragédias.
A virada de chave nesse problema envolve uma eficaz gestão de dados e o conhecimento real da situação da cidade, com base em números e em ação.
Manaus tem atualmente mais de 600 áreas de risco catalogadas.
Além de conhecer números globais e mais amplos sobre uma realidade local, é necessário saber o que priorizar. Com tantas áreas de risco catalogadas, o gerenciamento de cada um desses ambientes de forma apenas visual e individual, sem auxílio de alta tecnologia, se torna uma tarefa quase impossível.
Pra estarmos prontos pra um desafio como esse, precisamos garantir que esses dados de previsão de desastres estejam disponíveis com a melhor qualidade possível e que os líderes a frente de departamentos e unidades responsáveis por essas operações tenham as condições de tomar as melhores decisões.
Saber o que fazer com os dados é fundamental no trabalho de previsão.
Atualmente existem algumas iniciativas privadas que tem desenvolvido soluções que podem ajudar no combate aos efeitos catastróficos das mudanças climáticas, com capacidade de prever desastres ambientais com semanas de antecedência.
Uma delas é a Sipremo. Uma startup que funciona como uma plataforma de monitoramento antecipado de desastres naturais. A iniciativa nasceu dentro da Defesa Civil do estado de São Paulo, pelas mãos do engenheiro mecânico Gabriel Savio que já recebeu reconhecimentos como o Top10 no Ranking Open Startups Citytechs. Também venceu a etapa mundial do AI for Good, da Cúpula Global da ONU.
🎙️ Conversei com Gabriel Savio sobre como funcionam iniciativas de monitoramento em outros países e como a operação no Brasil poderia ser melhorada. Vale a pena conferir. Acesse o play abaixo:
Trilha de fundo: Introvert by A. Cooper
Ocorrências como a que aconteceu em Manaus exigem com que as cidades estejam mais preparadas. Sem condições operacionais adequadas, se faz necessário recorrer a soluções que possam complementar essa necessidade tão urgente.
Tecnologia existe. Agir rapidamente, com base nos dados gerados pelas ferramentas tecnológicas, me parece ser a próxima fronteira.
As chuvas não esperam.
🌊 Rios Voadores
Para doar alguma ajuda para as vítimas em Manaus, a ONG Parceiros Brilhantes lançou um link para arrecadar doações para as famílias do desabamento. A contribuição pode ser também via pix para: pix@parceirosbrilhantes.com.br.
Uma publicação da Our World in Data faz um levantamento geral sobre os números de desastres ao longo do tempo, dividindo por tipo de ocorrência. Uma pesquisa com muitos gráficos interessantes.
Haishan Fu, chefe de estatística do Banco Mundial, fez um texto sobre a importância dos dados no trabalho de prevenção a desastres e como isso pode ajudar a salvar vidas.
🔵 Texto feito por Denys Cruz, mestre em ensino tecnológico, especialista em marketing e pesquisador em Manaus, Amazonas. É também analista técnico do Sebrae Amazonas.