Reator 2 | #10 | Sua profissão em risco?
O que diz o relatório da Goldman Sachs sobre os impactos da Inteligência Artificial aos empregos no mundo
300 milhões de empregos em risco por causa de tecnologias de Inteligência Artificial generativas.
Foi a estimativa feita pelo banco americano Goldman Sachs, em relatório disparado no final do mês de março e que pautou as editorias de tecnologia pelo mundo, com um número completamente devastador de vagas sendo atingidas.
Desde o final do ano passado, com o crescimento exponencial do uso de ferramentas disponibilizadas pela Open AI e outras, tenho feito pesquisas sobre o assunto, testado algumas aplicações, com o objetivo de compreender melhor até aonde podemos ir com o uso desse tipo de inteligência. Dentre as análises que já vi sobre o assunto, essa da GS trouxe estimativas em um nível de detalhes interessante, inclusive com recortes citando o Brasil e que vale a pena a gente conhecer um pouco mais.
Como encontrei pouca coisa pra além da repercussão de manchetes sobre os 300 milhões de empregos atingidos, resolvi trazer na postagem dessa semana alguns destaques do que esse relatório do Goldman Sachs abordou.
Aqui você encontra o relatório em Inglês, pra baixar, caso queira.
Sem ir para o campo dos economistas, vou dar destaque em pontos que me chamaram a atenção e que podem servir pra que gente consiga juntar as informações e quem sabe, até mesmo nos preparar para o que vem por aí.
Eles começam com o título: “Os efeitos potencialmente grandes da Inteligência Artificial no Crescimento Econômico”. E no resumo inicial pontuam:
O recente surgimento de Inteligência Artificial generativa (IA) mostra que estamos à beira de uma rápida aceleração na automação de tarefas que gerará economia de custos de mão de obra e aumentará a produtividade. Apesar da incerteza significativa em torno do potencial da IA generativa, sua capacidade de gerar conteúdo indistinguível da produção criada pelo homem e de quebrar as barreiras de comunicação entre humanos e máquinas reflete um grande avanço com efeitos macroeconômicos potencialmente grandes.
E logo em seguida, seguem com essa informação:
Se a Inteligência Artificial generativa entregar seus funcionalidades prometidas, o mercado de trabalho poderá enfrentar perturbações significativas. Usando dados sobre atividades ocupacionais nos EUA e na Europa, descobrimos que cerca de dois terços dos empregos atuais estão expostos a algum grau de automação de IA, e que a Inteligência Artificial generativa pode substituir até um quarto do trabalho atual. Nossas estimativas globais sugerem que a IA generativa poderia expor o equivalente a 300 milhões de empregos em tempo integral à automação.
Depois de soltar a bomba atômica, eles aliviam assim:
A boa notícia é que o deslocamento de trabalhadores da automação tem sido historicamente compensado pela criação de novos empregos, e o surgimento de novas ocupações após inovações tecnológicas responde pela grande maioria do crescimento do emprego a longo prazo.
Ao meu ver o relatório não teve o objetivo de gerar algum tipo de alarmismo, mas claro que uma informação que coloca diversas profissões em risco, em escala global, tende a causar temores, principalmente pra aqueles que estão dentro do alvo dessas automações.
Os pesquisadores que assinam o relatório falam sobre a expectativa da possibilidade de um verdadeiro BOOM de produtividade, se as condições forem satisfatórias no que se refere a combinação de economia significativa nos custos trabalhistas e novos tipos de empregos forem criados. Mas reconhecem que seja difícil prever o momento do tal BOOM.
Não há dúvidas de que estamos diante de um avanço que tem o potencial de causar uma mudança significativa no mercados de trabalho e estimular o crescimento da produtividade global nas próximas décadas. O grande detalhe vai ser identificar a velocidade em que isso vai se dar.
Tudo passa pela adoção desse tipo de inteligência por parte do grande público. Assim como interfaces gráficas como o Windows ajudaram a massificar o uso de computadores pessoais, interfaces facilitadas e didáticas podem fazer com que todo mundo consiga embarcar na utilização e com isso aumentar de forma significativa a velocidade de adoção.
O recorde de crescimento de usuários do ChatGPT em pouco tempo, o mais rápido da história, nos diz que a massificação esperada realmente já começou e à medida que esse tipo de tecnologia se torna mais acessível, os investimentos se seguem.
Tudo porque o foco do mercado é e sempre foi buscar formas de fazer mais com menos. Se há alternativas pra isso acontecer, que seja o mais rápido possível.
O relatório estima que um quarto das tarefas atuais podem ser automatizadas no Estados Unidos e mostram um quadro, elencando as principais tarefas que podem ser afetadas, com destaque para profissões administrativas (46%) e jurídicas (44%). Apesar de ser um recorte norte-americano, já podemos ter uma noção em alcance, pois essas atividades se assemelham com as funções que temos por aqui.
Vou dar um zoom aqui pra visualizar melhor as funções mais atingidas.
Para a realidade de Europa, a estimativa de impacto da automação é a seguinte:
45% para empregos envolvendo atividades de escritório;
31% para profissionais técnicos;
29% para funções de gerentes;
22% para ocupações nas forças armadas
Em seguida, o relatório expande suas estimativas para demais países, sugerindo intuitivamente que menos empregos em países emergentes estão expostos à automação do que em países desenvolvidos, mas que 18% do trabalho global poderia ser automatizado por inteligência artificial. Nesse próximo gráfico, há uma menção para estimativas envolvendo o Brasil.
Entre os emergentes, o Brasil é o quarto país que tem empregos mais expostos ao alcance de serem automatizados pela Inteligência Artificial.
A expectativa é que esse percentual de empregos não vão desaparecer subitamente. A tecnologia pode substituir essas tarefas, mas também pode tornar mais produtivas as execuções de outras tarefas, criar novas funções e novos empregos. O relatório da Goldman Sachs também cita pesquisas que constatam que 60% dos trabalhadores hoje estão empregados em ocupações que não existiam em 1940, o que significa que mais de 85% do crescimento do emprego nos últimos 80 anos é explicado pela criação de novas posições impulsionada pela tecnologia.
Pra um melhor entendimento sobre esse levantamento da Goldman Sachs, sugiro dar uma verificada no PDF completo. Tem inclusive outros gráficos que passam mais detalhes.
Ao meu ver, a simples visualização dessas informações não nos dão o cenário todo, justamente porque estamos dentro desse furacão de transformação e fica mais difícil observar os resultados de efeitos que podem acontecer. Mas nos ajudam a acionar o sinal de alerta, principalmente quando nos visualizamos dentro da zona de atuação da ferramenta. Só as 12 primeiras áreas que destaquei são uma fatia considerável das principais funções hoje no mercado de negócios.
Diante disso, temos mais perguntas que respostas. Dentre elas, eu cito:
Como esses profissionais estão se preparando pra essa virada de chave? Como será o reposicionamento desses trabalhadores para novos postos?
Aqui no Reator 2 quero trazer mais conteúdos sobre o assunto. Mas as grandes questões que envolvem essa verdadeira revolução prevista, passam pela condição de entendimento sobre os impactos sociais que vão ser gerados, sobretudo, em funções tradicionais que contam com uma quantidade gigante de pessoas que não fazem a menor ideia do que está por vir.
Sinceramente, não sei se vai demorar muito pra chegar. Quem puder, que se prepare.
🌊 Rios Voadores
O festival SXSW desse ano trouxe um dos criadores do ChatGPT, Greg Brockman da Open AI pra uma conversa. Pra alguns, foi um papo decepcionante, pra outros, deu pra esclarecer muita coisa. Interessante assistir.
Para Kevin Kelly, co-criador da revista Wired, voz relevante no mundo da tecnologia e da cultura digital, o ChatGPT nesse momento se trata de um esperto e promissor estagiário. Essa é uma das impressões do SXSW captadas por Ricardo Neves durante o evento e presentes neste artigo na Época Negócios.
Yuval Harari, autor de "Sapiens", alerta que a inteligência artificial ameaça os “fundamentos de nossa sociedade” caso evolua de forma irresponsável. Ele escreveu um artigo no The New York Times sobre o assunto.
🔵 Texto feito por Denys Cruz, mestre em ensino tecnológico, especialista em marketing e pesquisador em Manaus, Amazonas. É também analista técnico do Sebrae Amazonas.