Reator 2 | Edição #06 | Podcast ganhando espaço🎙️
Conversei com Caio Corraini da Maremo.to, sobre o mercado para novos produtores
Me convenci há anos de que o podcast tem uma utilidade gigante de fazer com que o tempo no trânsito faça algum mínimo sentido. Não tem como encarar horas de trajetos sem a companhia dos meus programas favoritos.
Mas pra além de um gosto pessoal, de fato, essa mídia tem se tornado um dos formatos de comunicação mais populares, graças ao aumento do interesse por parte do público e pela presença de grandes players, que vem fazendo investimentos consideráveis em conteúdos de áudio.
Cada vez mais programas tem ganhado destaque nacional, pautando de forma única e exclusiva, temas e conteúdos que após serem lançados, tendem a seguir sendo repercutidos nas redes e em portais.
Um dos destaques, no formato de entrevista é o podcast Mano a Mano, que tem o selo original Spotify. Liderado por Mano Brown, com apoio de Semayat Oliveira, traz semanalmente um convidado pra falar sobre suas trajetórias e percalços. Com uma condução bem intimista e direta, Brown consegue tirar muitos relatos dos entrevistados, que acabam soltando detalhes jamais ditos em nenhum outro veículo. Já estiveram com ele convidados como Dráuzio Varella, Glória Maria e Djavan. Recentemente o programa ganhou um prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA), como o melhor podcast de 2022 (Muito merecido, por sinal).
Quem ainda não se ligou para o mercado de podcasts precisa ficar mais atento.
O detalhe é que há estimativas que apontam pra um horizonte vantajoso nesse segmento nos próximos anos.
A Insider Intelligence projeta que até 2028 o podcast se tornará uma indústria de mais de 90 bilhões de dólares. Algo que já que já vem fazendo com que marcas como a GloboPlay ampliem seu leque de opções de conteúdo, com olhos para o aumento do potencial de protagonismo que essa ferramenta tende a ter nos próximos anos, no que se refere a ambiente ideal para publicidade e anúncios.
Mas ainda tem espaço pra novos produtores de conteúdo? Como a tecnologia pode contribuir com possíveis novos empreendedores desse setor?
Pra entender mais sobre esse mercado, resolvi procurar uma das referências nesse segmento. Conversei por email com Caio Corraini, dono da empresa Maremo.to, uma das maiores produtoras de podcast do Brasil, responsável por projetos envolvendo grandes marcas como a Globo e CNN.
A seguir, a conversa que tivemos:
Denys Cruz: Caio, com estimativas de grande crescimento de ouvintes aderindo ao formato, com milhares de programas disputando a atenção, o que um novo produtor de podcasts deve ter como prioridade, quando pensar em novos títulos?
Caio Corraini: Uma coisa que sempre digo é que o conteúdo é rei. Ele é quem vai definir o sucesso ou fracasso de um projeto. Sendo assim, o mais importante neste momento de muita disputa pela atenção do consumidor, é desenvolver algo que demonstre respeito ao tempo dessa pessoa. Um programa com pauta cuidadosa, bem editado e lançado com consistência, sempre irá sair na frente. Dito isso, é importante também procurar as melhores maneiras de atingir a sua possível audiência, já que se estas pessoas não encontrarem o seu programa, todo o esforço é em vão. Entenda o nicho do qual você faz parte.
Se eu quero falar com empreendedores, o melhor caminho é fazer um programa de várias horas ou um projeto mais curto e direto, que vá agregar à rotina dele sem ocupar muito o seu tempo? Se meu objetivo é conversar com jovens, qual a melhor linguagem para que eles se identifiquem com os interlocutores e se vejam representados neles? Tudo isso precisa ser levado em consideração.
Denys Cruz: Em que nível, ferramentas como um chatGPT e reprodutores de vozes humanas podem impactar o mercado de produção de podcasts? Há convergência com o que já é feito dentro do estúdio ou um certo ceticismo no que essas ferramentas podem realmente oferecer?
Caio Corraini: A tecnologia não liga muito para os nossos sentimentos. Ela vai continuar crescendo, evoluindo, se diversificando e ocupando espaços que antes eram nossos. Não dá pra brigar com isso.
O que dá pra fazer é entender estas ferramentas e como elas podem auxiliar nas nossas obrigações diárias.
Ainda estamos muito longe de termos podcasts desenvolvidos inteiramente com a utilização de I.A. que seja praticamente indistinguível dos que fazemos atualmente. Porque os seres humanos são únicos em seus pontos de vista, seu poder de contextualização, cada um de nós carrega uma experiência de vida que determina o que vai ser dito, como vai ser dito e de que maneira será apresentado para o público.
Entretanto, nós já usamos diversas ferramentas no nosso dia a dia. A inteligência artificial já nos auxilia a remover ruídos de uma gravação, por exemplo. O ChatGPT pode ser o pontapé inicial para um esqueleto de roteiro, que será modificado e adaptado até chegar no nível de excelência que precisamos (ainda mais se levarmos em consideração o tanto de informações incorretas que a plataforma ainda nos fornece como se fossem verdades).
Nunca perderemos a nossa utilidade. Mas sim, a nossa rotina de trabalho vai ser constantemente alterada pelos avanços tecnológicos. O importante é que os profissionais se mantenham em constante estado de atualização e façam as movimentações adequadas para que o seu trabalho seja sempre valioso dentro de qualquer contexto.
Denys Cruz: Produtos com vertente regionalizada, por exemplo conteúdos com foco em Amazônia, tem espaço pra performar, ou o ideal é tornar conteúdos mais amplos e globais?
Caio Corraini: Tem e muita. Mas é sempre importante estar atento à expectativa em relação a este tipo de projeto.
Quando miramos em um nicho específico de mercado, precisamos conhecer a fundo este grupo e seus interesses. No que acreditam, se interessam, como se configuram e se organizam enquanto sociedade.
Além disso, é necessário compreender quais as especificidades que os unem. No caso da pergunta, é basicamente a região em que vivem. Fora este detalhe, estas pessoas são pequenos e únicos universos, com crenças, trejeitos e habilidades únicas, então como podemos os unir sob um programa que possa ser interessante para o maior número de indivíduos?
Podcasts assim nunca serão tão populares quanto os que são feitos com uma abrangência maior de público em vista, entretanto eles tem algo que seus competidores não tem: a proximidade com a realidade e a contextualização da maneira de transmitir suas informações que é igual a das pessoas que estão querendo atingir.
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É isso. Esse post de hoje do Reator também me deixa mais convicto de que é possível trabalhar mais e mais programas, com novas experimentações e que possam explorar alternativas diferentes nessa mídia.
Será que a próxima voz em podcast é a sua?
🌊 Rios Voadores
Assisti o encontro online Indypod Summit, realizado no início de fevereiro desse ano, que apresentou resultados de um censo promovido pelo portal The Podcast Host, com números sobre o mercado de produtores independentes de podcasts ao redor do mundo. Evento muito interessante e feito em uma plataforma com muitas possibilidades de interação. O portal CastNews foi um dos apoiadores no Brasil. Pra assistir a apresentação dos resultados deste censo, acesse aqui.
Falando em CastNews, entrou no ar o novo podcast do portal, com atualizações semanais sobre o universo dos podcasts, com informações atualizadas e em primeira mão. O podcast tem apresentação de Léo Lopes, da Radiofobia e é lançado toda segunda-feira nos agregadores. Vale a pena acompanhar. Acesse aqui pra conferir o episódio mais recente.
Uma indicação pra quem está em Manaus/AM e pensa em criar o seu podcast em estúdio físico. Conheça o pessoal da Hattori Tech, que desenvolve desde a concepção, roteiro e produção de conteúdos de programas, em especial, em formatos de mesacast. Pra saber mais detalhes, confira o site deles. (Não é jabá. É indicação por conhecer o trabalho deles e saber da qualidade com que fazem acontecer).
Conheça o podcast Pavulagem. Criado pelo jornalista paraense Maickson Serrão, o projeto traz histórias folclóricas contadas através de entrevistas com ribeirinhos e indígenas, com um design de som feito com muita qualidade.
Agradeço por ler até aqui. Não deixe de mandar pra frente esse link e convidar seus amigos pra cá. Toda sexta tem um conteúdo novo chegando.
🔵 Texto feito por Denys Cruz, mestre em ensino tecnológico, especialista em marketing, publicitário e pesquisador em Manaus, Amazonas. É também analista técnico do Sebrae Amazonas.